Evolução histórica do conceito "Uma Só Saúde"
Em 2005, Organizações ligadas à saúde, promoveram uma iniciativa de sensibilização para a importância de uma abordagem multidisciplinar nesta área. A iniciativa emergiu de um sobressalto sanitário causado por um vírus da Gripe Aviária. O serótipo H5N1 do vírus Influenza A, espalhou-se devido às migrações das aves silvestres.
Para isso a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Banco Mundial (WB), a Sociedade Mundial para a Conservação da Vida Selvagem (WCS) e a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) promoveram reuniões interministeriais para implementar uma estratégia eficaz onde se perspectivam os vetores do bem-estar humano na definição de políticas sanitárias: as saúdes ambiental, animal e saúde pública.
“Uma só saúde” é um trabalho interdisciplinar visando alcançar condições de saúde e bem-estar ideais para as pessoas e outros animais, plantas e ecossistemas.
Muitos governos passaram a incorporar estes conceitos nas suas políticas públicas de governança dos sistemas de saúde.
Os sistemas de governação da saúde pública são críticos para o desenvolvimento e sustentabilidade das sociedades e biodiversidade. Estes sistemas têm de ser capazes de responder às ameaças nas interfaces humano-animal-ambiente. As mais óbvias são as doenças compartilhadas entre os humanos e os animais, mas existem outros aspetos relevantes, como a transmissão vetorial de doenças, a segurança alimentar e hídrica e a resistência antimicrobiana.
A iniciativa “Uma Só Saúde” visa dar visibilidade a um conceito presente desde há 5 mil anos. Os astrónomos, os filósofos e os sacerdotes da Antiguidade reconheciam o impacto que as doenças dos animais e a higiene ambiental tinham na saúde humana, tendo alguns desses conhecimentos sido assimilados como dogmas nas religiões mais antigas. Os gregos, os romanos e os árabes elevaram esses conhecimentos a estatutos profissionais (restringindo as interações com animais, plantas e águas como forma de prevenção de doenças).
A partir do Renascimento e Iluminismo, os naturalistas, os químicos, os boticários, os alveitares, os anatomistas, os geneticistas, os botânicos e os zoologistas demonstraram que muitas doenças dos animais e condições ambientais influenciavam a saúde humana.
A criação do ensino da Medicina Veterinária em 1761 (França) tornou-se necessária para combater doenças que os animais transmitiam aos seres humanos que com eles contactavam diretamente (raiva, mormo, tuberculose).
Com o advento da microbiologia moderna (meados do Séc. XIX), expandiu-se o conhecimento das doenças contagiosas e transmissíveis dos animais ao Homem (zoonoses). A Revolução Industrial introduziu elementos que impactam com a segurança sanitária ambiental (poluição) e os consequentes reflexos na saúde humana. No final do Séc. XX, a miríade de esferas de conhecimento especializado era de tal forma numerosa e dispersa que se tornou impossível abarcar numa só entidade as fontes de conhecimento nestas matérias. A Revolução Informática e as Ciências da Comunicação vieram disponibilizar as ferramentas que permitirão o acesso generalizado das populações a conhecimentos que, até há pouco, estavam na posse de um número restrito de especialistas. A iniciativa “Uma Só Saúde” irá ser apoiada na gestão dos chamados metadados dos “big data”.
Professor Fernando Bernardo, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa
Fonte: DGAV Consultar fonte
Data de publicação: 03/01/2022 10:00
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